Geografia das publicações científicas, mapas do poder

By | March 12, 2013

Numa das últimas edições do Semanáio “Sol”, o vice-reitor da Universidade do Porto disse ao jornal Sol “estar preocupado com o facto de apenas 1% da investigação científica no mundo provir de África.”

Acreditamos fortemente que o “Sol” destacou  esta ideia, de um conjunto que lhe daria o necessário contexto.

No entanto, como é um assunto importante para a teorização e prática(s) contra-hegemónica, onde inserimos a Economia Social e Solidária, não podemos deixar o assunto sem um comentário.

É necessário não esquecer que a “geografia” das publicações científicas nos ensinam também as “geografias” do poder, de quem tem voz,  e da exclusão, de quem é silenciado.

Aproveitando a oportunidade concedida pelo JPN – publicação da área das Ciências da Comunicação, da Universidade do Porto – , que quis saber mais sobre este assunto e sobre o Centro de Estudos Africanos, ao qual pertencemos, respondemos a várias questões.

Publicamos apenas a nossa resposta integral à alegada afirmação do VIce-Reitor da UP:

JPN – Na semana passada, o vice-reitor da Universidade do Porto disse ao jornal Sol estar preocupado com o facto de apenas 1% da investigação científica no mundo provir de África. Visto que o Centro de Estudos Africanos tem um grande impulso científico, de que forma é que acham que esse problema pode ser combatido?

A nossa resposta – É de saudar esta preocupação. Seria interessante perceber como se chega a esse valor de 1%. Talvez o jornal Sol tenha recortado apenas uma parte da informação pretada pelo nosso Reitor.

Talvez estejamos a falar da % de artigos de cidadãos africanos publicados nas revistas dos países europeus e dos EUA, que fazem parte do sistema de indexação destes países. Isto significa que apenas os artigos publicados em determinadas revistas são contabilizados, quando se fazem apreciações deste género. No entanto, há centenas de boas revistas produzidas em África, com belíssimos artigos. Como acontece em muitas áreas, muita produção é invisibilizada, o que é uma pena. Uma pena por que no fundo se diminui a riqueza do nosso presente, apresentando o mundo muito mais “plano” do que ele é.

No entanto, é muito importante dar voz aos investigadores africanos nas revistas europeias e americanas de referência. O CEAUP contribui para este objetivo, desde logo porque edita uma revista científica – “Africana Studia” – com peer review , indexada ao Latin Index e que faz parte da EBSCO (conceituada base de dados de artigos científicos). Esta revista leva já mais de 15 anos de edição permanente e os autores africanos estão sempre presentes. Não temos qualquer sistema de quotas por que escolhemos publicar os melhores, e entre estes há sempre muitos que são africanos. Nas restantes publicações do CEAUP a presença de investigadores africanos é também muito forte.

Deixamo-vos também com a notícia publicada integralmente no JPN

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