Modelo Concetual e Análitico dos Empreendimentos Económicos Solidários (EES)

By | April 16, 2013

Num artigo publicado em 2010, Luiz Inácio Gaiger e Andressa da Silva Corrêa apresentam um modelo muito interessante para se compreender melhor as dimensões e valores necessários para um empreendimento ser considerado social e solidário.

Consideramos o modelo, que agora se apresenta,  fundamental para se distinguir um EES de outros “negócios sociais”, que tantas vezes se reclamam da Economia Social e Solidária.

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Neste modelo concetual há 2 vetores e 4 dimensões: o Vetor Solidário é fundamental na distinção entre empresas privadas e EES, englobando duas (2) dimensões – a Autogestão e a Cooperação; o Vetor Empreendedor diz respeito à capacidade de preservação e consolidação dos EES, permitindo-lhes continuar a funcionar a médio/longo prazo, concorrendo para que estes projetos ganhem credibilidade e não sejam apenas considerados utopias interessantes – engloba as dimensões da Eficiência e da Sustentabilidade.

Compreende-se que os autores, envolvidos, no Brasil, no maior mapeamento de EES de que há memória, tivessem tido necessidade de criar uma matriz de critérios que conferisse coerência à escolha dos empreendimentos a considerar para mapeamento e aqueles que teriam que se excluir por não se observarem os critérios estabelecidos.

Esta é uma área (felizmente) muito fluída, onde nos deparamos com uma enorme heterogeneidade de experiências e projetos que se reclamam da economia social e solidária, o que torna a tarefa mais difícil.

Consideramos que esta matriz pode ser um ponto de partida importante para que investigadores e ativistas possam compreender melhor o que é (e o que não é) um ESS.

Por outro lado, esta pode também ser uma matriz que permita avançar para uma contabilidade específica para estes ESS:  uma organização desta tipologia deve ser valorizada não apenas pela “accountability” tradicional – a maior parte das vezes de teor apenas financeiro – mas pela demonstração de que é “accountable” pela capacidade de operar no respeito de valores que necessariamente os devem distinguir de empreendimentos capitalistas (não falamos de “mercado – uma análise à matriz apresentada permite perceber que os ESS produzem bens e atuam no mercado).

Os vetores e as dimensões que a matriz de Gaiger e Corrêa apresentam podem servir como guião para o estabelecimento dessa contabilidade específica, uma contabilidade social, com balanços e demonstrações de resultados que decidam se uma determinada empresa é um EES, beneficiando desse estatuto (quer fiscalmente, quer em apoios concedidos a este setor).

Os financiadores de EES ficariam a ganhar se considerassem a análise dos vetores apresentados fundamental na seleção dos projetos a beneficiar – assim poderiam ter a certeza de estar a premiar ESS reais e não “negócios” mascarados de sociais.

Gaiger, Luiz Inácio e Corrêa, Andressa da Silva (2010). A História e os sentidos do empreendedorismo solidário in Outra Economía, volumen IV, nº7, 2º semestre 2010, 153 a 176. (artigo pode ser consultado na internet – livre de direitos)