Valores e Dimensões dos Empreendimentos Económicos Solidários

By | October 17, 2014

Muitas vezes, quer ao ler a literatura especializada, quer ao levantar dados no terreno, sentimos dificuldade em identificar e em caraterizar o que possam ser experiências de Economia Social e/ou Solidária.

Esta dificuldade deve-se, sobretudo, à diversidade de experiências que surgem a partir das bases, dos próprios cidadãos, para fazer face às necessidades quotidianas.

Luís Inácio Gaiger e outros estudiosos brasileiros, confrontados com a necessidade de realizar um mapeamento e estudos sobre os empreendimentos de Economia Social e Solidária no Brasil, em pesquisas realizadas entre 1992 e 2009, também sentiram necessidade de criar um modelo conceptual e analítico dos empreendimentos económicos solidários, definindo uma matriz de critérios. Apresentamos, no quadro seguinte, este modelo, que nos pareceu muito importante:

 Quadro Gaiger

 

No modelo apresentado, os autores utilizam como critérios de identificação dos empreendimentos sociais, os seus valores e dimensões. Assim,

«no VS, a Autogestão vincula-se à democracia, à participação e à autonomia do empreendimento em seu gerenciamento, relacionando-se tanto aos sócios singulares quanto a organizações e forças externas. A Cooperação refere-se a valores e práticas de mutualidade colaboração mútua, compromisso social e gratuidade.(…) Quanto ao VE, a Eficiência de um empreendimento diz respeito à sua capacidade de preservar-se e consolidar-se em resultado do seu funcionamento. Refere-se a aspectos da operação económica que garantam a sua sobrevivência no presente e não a comprometam no futuro. A Sustentabilidade diz respeito à capacidade de gerar condições para seguir funcionando a médio e longo prazo (2010:162)».

Para os autores, a mais-valia destes empreendimentos tem na base a combinação entre o espírito empreendedor e o espírito solidário, entre duas lógicas de acção: a lógica instrumental, que demanda realismo e pragmatismo e orienta-se pela viabilização de uma alternativa económica; em contraponto, a lógica expressiva e projetiva dos valores e princípios ideológicos, voltada a aspirações de mudança pessoal e social, demandando altruísmo, engajamento e, sobretudo, convicções quanto às possibilidades e à valia de tais transformações (2010:166,167).

Fonte: Gaiger, L. I. & Corrêa, A. da S. 2010. A História e os sentidos do empreendedorismo solidário. Outra Economía, volumen IV, nº7: 162.